Revista Cultura Em 1 Minuto 6ª Edição

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A [SUB] que transborda: o papel de Fabiana e Marcela Pacola na cena independente de Campinas
Cultura Em 1 Minuto
01 de março de 2025

A [SUB] que transborda: o papel de Fabiana e Marcela Pacola na cena independente de Campinas

Por trás das mesas repletas de zines, xilogravuras e fotolivros que se acumulam anualmente na Biblioteca Municipal de Campinas, há um trabalho de curadoria obsessivo e um desejo latente de expansão. Desde 2016, a Feira [SUB] de Arte Impressa e Publicações Independentes, idealizada por Marcela e Fabiana Pacola, tem sido mais do que um evento: é um ponto de ebulição para artistas e editoras independentes, um território de descobertas onde a troca vale tanto quanto a venda.

“A gente sempre fala que não é só o trabalho que a gente faz”, insiste Marcela, refutando qualquer rótulo que tente enquadrar a [SUB] dentro de um único nicho. “Reunimos colagens, cartazes, serigrafias, lambe-lambes, livros experimentais – tudo coexistindo sem hierarquias, em um ambiente onde a materialidade da arte é celebrada.” Fabiana complementa: “A gente teve esse cuidado desde o começo para que a feira não ficasse marcada por uma única linguagem. Queríamos que ela fosse um campo de intersecção.”

NÃO FAZIA SENTIDO MOBILIZAR ARTISTAS DO BRASIL INTEIRO SE A FEIRA NÃO OFERECESSE ESPAÇO DE TROCA, VISIBILIDADE E VENDA”

O conceito da feira, assim como suas curadoras, nunca se acomodou. A primeira edição reuniu um punhado de expositores e serviu como um teste. Quando perceberam que a cena independente pulsava e ansiava por um evento mais robusto, decidiram ampliar o alcance. “Não fazia sentido mobilizar artistas do Brasil inteiro se a feira não oferecesse espaço de troca, visibilidade e venda”, explica Fabiana. Desde então, a [SUB] se tornou um destino obrigatório para criadores de publicações alternativas, atraindo editoras, coletivos e artistas gráficos de diversas partes do país.

Mas como fazer a arte independente circular em uma cidade onde a produção ainda está se afirmando? “Construir laços sempre sabia que precisava encontrar um jeito de criar conexão antes do evento acontecer”, lembra Marcela. Foi assim que começaram a divulgar os expositores antecipadamente, mostrando um pouco dos portfólios e processos criativos. A estratégia deu certo: “As pessoas vinham sabendo o que esperar, já com aquela curiosidade em alta”, ela diz.

Ainda assim, os desafios são inegociáveis. O primeiro deles: dinheiro. “A feira acontece sem apoio fixo, então dependemos muito das parcerias”, conta Fabiana. A seleção dos expositores também exige um olhar atento: “A cada edição, a equipe se vê diante de um volume crescente de inscritos. Buscamos trabalhos incríveis e avaliamos tudo com cuidado. Escolher é sempre um desafio”, confessa Marcela.

Mas talvez o maior dilema seja romper as barreiras geográficas. “A gente fica preocupada em gente só vir em Campinas”, reflete Fabiana, que também conduz a revista Horda, uma publicação que se propõe a expandir os limites da cena cultural local. Essa inquietação impulsionou a criação de uma programação paralela à feira, espalhando atividades por outros espaços da cidade ao longo do ano. O objetivo? Fazer com que o movimento extrapole os dias do evento e estabeleça diálogos contínuos com diferentes públicos.

“O QUE ANTES PARECIA IMPOSSÍVEL, HOJE JÁ FAZ PARTE DO NOSSO REPERTÓRIO.”

Com quase uma década de existência, a Feira [SUB] aprendeu a sobreviver no meio do caos informacional. “A cada edição, fica mais difícil captar a atenção das pessoas”, admite Marcela. “Temos muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e se destacar exige um esforço coletivo.” O engajamento dos expositores e das redes de parceiros tem sido essencial para manter a feira pulsante.

E o que vem pela frente? “A gente aprende a cada edição”, reflete Fabiana. “O que antes parecia impossível, hoje já faz parte do nosso repertório.” Depois de um período de expansão forçada em 2019 e da pausa forçada pela pandemia, a feira ressurge mais madura, acompanhando o crescimento das feiras independentes no Brasil e fortalecendo sua identidade como um espaço essencial para a arte impressa.

A [SUB] nunca foi só uma feira. É um manifesto gráfico contra o óbvio, uma celebração do fazer artístico em suas formas mais cruas e, enquanto houver papel, tinta e desejo de criar, Marcela e Fabiana continuarão garantindo que esse encontro aconteça, ano após ano.

Notícia na íntegra aqui: